Cadê o 13º que estava aqui? Spoiler: Acharam que o motorista ia pedir pro Papai Noel

Créditos: Bruno Niz/Veja São Paulo

Quem vê os ônibus rodando em São Paulo talvez não imagine a guerra de bastidores que está acontecendo agora, em dezembro de 2025, nos corredores da Prefeitura. O sistema de transporte da capital, um dos maiores do mundo, vive o que especialistas chamam de “ruptura institucional”.

O motivo? A chamada Revisão Quadrienal — um acerto de contas previsto em contrato desde 2019 que deveria atualizar os valores pagos às empresas de ônibus. O problema é que, segundo documentos aos quais tivemos acesso, o que deveria ser um cálculo técnico virou uma disputa política onde a calculadora da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) foi ignorada pela “canetada” da Secretaria da Fazenda.

O Juiz que foi ignorado: O Papel da FIPE

Para o leitor leigo entender: quando a Prefeitura e as empresas de ônibus discordam sobre valores, chama-se um “juiz” técnico e imparcial. Neste caso, a escolhida foi a renomada FIPE.

A FIPE realizou um estudo complexo (Fase 4 – Abril/2025) para calcular quanto o sistema realmente custa após a pandemia e a inflação. O estudo definiu regras claras para o lucro das empresas e o custo da operação.

No entanto, relatórios apontam que a Secretaria Municipal da Fazenda interveio nos cálculos. Mesmo a FIPE e a Secretaria de Mobilidade (SMT) tendo validado os números, a Fazenda impôs cortes que chegam a 68% sobre os valores técnicos.

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O que isso significa na prática? É como se você contratasse um perito para avaliar o conserto do seu carro, ele dissesse que custa R$ 1.000, e o pagador decidisse, sem explicar o motivo, que só vai pagar R$ 320.

A Guerra dos Documentos: O que diz o papelório?

Para os colaboradores do sistema e analistas, três documentos são a chave para entender essa confusão. Eles mostram que a área técnica de transportes (quem entende de ônibus) está em conflito com a área financeira (quem segura o cofre).

1. O Parecer “Esquecido” (Parecer Técnico SMT/GAB nº 127635271) Este documento foi emitido pelo Gabinete da Secretaria de Mobilidade e Transportes. Nele, a própria pasta reconhece que houve queda de demanda e que é “urgente a recomposição” dos valores.

  • A Polêmica: A Secretaria da Fazenda ignorou este alerta técnico da SMT.

2. A Minuta do Termo Aditivo É o documento oficial enviado ao Tribunal de Contas do Município (TCM). Nele, a Prefeitura propôs reduzir a taxa de lucro (TIR) das empresas de 11,79% para 9,88%.

  • A Polêmica: As empresas até aceitaram essa redução como parte de um acordo. Mas, na hora de pagar, a Fazenda aplicou cortes além dessa redução, que não constam na minuta oficial.

3. O “Apagão” no SEI O Sistema Eletrônico de Informações (SEI), onde os processos deveriam ser públicos, sofreu restrições. Documentos de cálculo que justificariam os cortes sumiram ou foram reclassificados como “preparatórios”, impedindo que a população e as empresas vejam como a conta foi feita.

Quem perde mais? O “Subsistema Local” na mira

Os cortes não foram iguais para todos. A “tesoura” da Fazenda atingiu com muito mais força as empresas que operam nos bairros (as antigas cooperativas), essenciais para a periferia.

Veja o tamanho do corte imposto sobre o valor calculado pela FIPE:

  • Grupo Estrutural (Ônibus grandes/Corredores): Corte de ~55%.
  • Grupo Local (Micro-ônibus/Bairros): Corte de ~68%.

O relatório alerta que esse corte desproporcional no sistema local é crítico, pois essas empresas têm menor fôlego financeiro e operam nas áreas de maior vulnerabilidade social.

Risco de Greve e o “Curativo” de R$ 250 Milhões

A consequência imediata dessa trava no repasse de verbas é a falta de dinheiro para o básico: o 13º salário dos motoristas e cobradores.

Para evitar uma greve geral que pararia a cidade, o prefeito Ricardo Nunes editou um decreto de emergência (Decreto nº 64.792) liberando R$ 250 milhões. Embora pareça muito dinheiro, a análise indica que isso é apenas um “respirador artificial” para garantir o pagamento de dezembro, sem resolver o rombo bilionário acumulado desde 2019.

Conclusão: O Barato que sai Caro

A tentativa de economizar “na canetada”, ignorando o estudo da FIPE, criou um passivo jurídico gigante. É provável que as empresas entrem na Justiça para cobrar a diferença, transformando a economia de hoje em uma dívida de precatórios impagável para as futuras gestões.

Enquanto a briga técnica continua nos gabinetes, o passageiro corre o risco de ver a frota envelhecer por falta de investimento e o trabalhador do transporte vive a incerteza do próximo salário.


Fonte: Relatório de Análise Estratégica e Regulatória (2019-2025). Apuração: Diário do Transporte.

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